Antes de adotarmos o "boi, boi, boi" como canção de ninar, a canção que
cantávamos (em Inglês) dizia algo como:
Sonhos doces venham para você,
Sonhos doces por toda noite"... (Que lindo, né mesmo!?)
Eis que um dia Mary Helen me pergunta o que as palavras, da música "Boi da
cara preta" queriam dizer em Inglês:
preta, pega essa menina
que tem medo de careta...(???)
preta" era uma ameaça, era algo como "dorme logo, kct, senão o boi vem te
comer"? Como explicar que eu estava tentando fazer com que ela dormisse com
uma música que incita um bovino de cor negra a pegar uma cândida menina?
Claro que menti para ela, mas comecei a pensar em outras canções infantis,
pois não me sentiria bem ameaçando aquela menina com um temível boi toda
noite...
Que tal! "nana neném que a cuca vai pegar..."? Caramba!... Outra ameaça!
Agora com um ser ainda mais maligno que um boi preto!
Depois de uma frustrante busca por uma canção infantil do folclore
brasileiro que fosse positiva me deparei com a seguinte situação:
O brasileiro tem é trauma de infância!!!! Trauma causado pelas canções infantis.!!!!
Exemplificarei minha tese:
Atirei o pau no gato-to
Mas o gato-to não morreu-reu-reu
Dona Chica-ca admirou-se-se
Do berrô, do berrô que o gato deu
Miaaau!
Para começar, esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara
de falta de respeito aos animais (pobre Gato) e incitação à violência e a
crueldade.
Por que atirar o pau no gato, essa criatura tão indefesa? E para
acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo dessa mulher sob a alcunha de
"D.Chica". Uma vergonha!
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si.
Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão
doces!! É impossível não lembrar do amiguinho rico da infância com um
carrinho fabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de
plástico... Fala sério !!!
Vem cá, Bidu! vem cá, Bidu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!
Tenho medo de apanhar.
Quem foi o adulto sádico que criou essa rima?
No mínimo ele espancava o pobre Bidú .....
Marcha soldado, cabeça de papel!
Quem não marchar direito,
Vai preso pro quartel.
De novo, ameaça! Ou obedece ou você vai se fu..... Não é à toa que o
brasileiro admite tudo de cabeça baixa....
A canoa virou,
Quem deixou ela virar,
Foi por causa da (nome de pessoa)
Que não soube remar.
Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças
brasileiras são ensinadas a dedurar e a condenar um semelhante. Bate nele,
mãe!
Samba-lelê tá doente,
Tá com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
É de umas boas palmadas.
A pessoa, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada e
necessita de cuidados médicos. Mas, ao invés de compaixão e apoio, a música
diz que ela precisa de palmadas! Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do
Bidú ......!!
O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou...
Como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa
passagem anos a fio ??
O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.
Desgraça, desgraça, desgraça! E ainda incita a violência conjugal (releia a
primeira estrofe).
Precisamos lutar contra essas lembranças, meus amigos! Nossos filhos merecem
um futuro melhor!
ah!!! você esqueceu desta:
Passa, passa três vezes..a última que ficar tem mulher e filhos que não pode
sustentar ...
(aí começa o desemprego) !!!Arnaldo Jabur
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